domingo, 23 de junho de 2013

As possibilidades de vivermos em uma democracia determinada por meio da internet

Esgotada a fase das passeatas e manifestações públicas, com algumas recaídas aqui e ali, o país entrará na fase do pós-manifestações.
Então, haverá desafio para estadista nenhum botar defeito. Quem entender os novos tempos, se consagrará; quem não entender, estará fora do jogo.
Qualquer estratégia política não pode ignorar as características dos novos tempos:
  1. O campo político, doravante, é o online, as redes sociais. São as novas ágoras, as praças púbicas das democracias gregas. Não dá para fugir da arena.
  2. As decisões políticas de gabinete estão definitivamente superadas. O país já avançou com a Lei de Transparência, que expõe alguns dados a posteriori. Terá que começar a trabalhar com formas de democracia direta.
  3. O cidadão entrou, finalmente, no centro das políticas públicas. Na segunda-feira, por exemplo, no embalo das manifestações, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) anunciará uma comissão de juristas para trabalhar a Lei de Proteção aos Direitos do Usuário de Serviços Públicos. É típica reação civilizatória contra um dos pontos centrais de abuso, a ausência de Estado na regulação dos serviços públicos.
  4. O atual arcabouço político-partidário envelheceu irreversivelmente. Não haverá como fugir ao tema central da reforma política, definindo formas que eliminem, de vez, os financiamentos privados de campanha.
  5. É hora de se repensar a questão da militarização da Polícia Militar.
A presidente da República Dilma Rousseff tem a faca e o queijo na mão. Se tiver discernimento, as manifestações poderão se constituir no empurrão definitivo para lançar o país em uma nova etapa da democracia.
Há um roteiro à vista, a ser protagonizado por Dilma.
O primeiro passo é radicalizar uma iniciativa sua, a Lei da Transparência – que obriga todos os órgãos públicos a disponibilizarem dados na Internet. Já existem experiências no Brasil e no mundo, sobre o uso inteligente das redes sociais para fiscalização de obras e serviços públicos.
Tome-se o caso dos transportes urbanos em São Paulo. Embora atropelado pelos fatos, o prefeito Fernando Haddad é um dos políticos com cabeça mais aberta para participação popular.
Ora, aproveite o impulso dado pelo Movimento Passe Livre e exponha todos os dados das empresas de transporte à fiscalização das redes sociais. Coloque os GPs dos ônibus, as rotas seguidas, o número de passageiros de cada trajeto, os dados do trajeto, as planilhas de custos e peça a parceria da rapaziada, ensinando como analisar os dados e como disciplinar as empresas.
Já existem ferramentas tecnológicas para monitoramento de obras públicas, para análises de contratos, para montar fóruns de discussão, para captar os sentimentos nas redes sociais. Através de um sistema de redes, o governo não ficará prisioneiro de indicadores que, muitas vezes, servem de biombo para esconder funcionários relapsos.
Sem rompantes, Dilma abriu os dados públicos com a Lei de Transparência. É hora de avançar e expor os sistemas de decisão aos olhos das redes sociais.
A crise, se bem interpretada, poderá permitir ao Brasil montar o primeiro movimento sério de cidadania digital.
Por Luis Nassif.  www.advivo.com.br/

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