sexta-feira, 21 de junho de 2013

Além de forte corrupção, o Brasil tem um sistema de locomoção com custos extremamente altos

Excluindo o vandalismo de alguns e a violência policial, já era hora de a sociedade se manifestar diante de um desânimo generalizado, causado pela impunidade em relação à corrupção, violência urbana e baixa expectativa de mudanças.
Mais do que protestar contra o aumento da tarifa, entendo que o que está em jogo é a péssima qualidade do transporte público brasileiro caro e ineficiente.
Locomover-se exige muitas horas das pessoas para se deslocarem para o trabalho em condições realmente precárias.
A principal razão desse caos é a falta de priorização por parte do poder público nas últimas décadas, sendo que o aumento vertiginoso da frota de automóveis traz ainda o problema dos congestionamentos, que cobram mais tempo de todos os cidadãos sem discriminação entre o ônibus e o automóvel, com exceção do metrô, cuja cobertura, em todas as cidades, é rigorosamente insuficiente.
O Governo Federal, hoje, entende que retirar as pessoas da pobreza significa mais acesso a bens de consumo do que oferecer serviços públicos essenciais de qualidade.
Recentemente, o governo lançou um programa de crédito para compra de móveis e eletrodomésticos subsidiado para famílias do Minha Casa Minha Vida. A estimativa desse programa é algo em torno de R$ 8 bilhões, a serem operados pela Caixa Econômica Federal.
Por sua vez, a redução das contas de luz, de acordo com o jornal Folha de S. Paulo, já custou à União R$ 8 bilhões: será que esses R$ 16 bilhões não poderiam ser utilizados em políticas de mobilidade urbana?
Certamente os ganhos eleitorais dessas “bondades” são maiores do que investimentos de médio e longo prazo, que muitas vezes terão retorno político daqui há alguns anos. E a oposição, o que tem a dizer?
Nada, porque lhe falta coragem para ir contra aos supostos benefícios às novas classes médias, que hoje representam o grande eleitorado brasileiro. Além de que ela também opera na lógica de “investimentos com alto retorno eleitoral”. Mas quem está pagando essa conta é este eleitorado, que não tem bons serviços de segurança, saúde, educação…
Mesmo reconhecendo que há necessidade de se repor a perda inflacionária do período, poucos esforços são feitos para se exigir das empresas concessionárias, melhor eficiência em termos operacionais e transparência em relação aos seus custos.
E o pano de fundo dessas manifestações vai além da questão pontual da tarifa de transporte, revelando um sinal de alerta ao sistema político partidário de representação, uma vez que a sociedade não se vê representada nos partidos políticos e nos parlamentos.
Pudera, hoje criar um partido político virou um bom negócio para os malandros de sempre, que tem acesso fácil ao fundo partidário, que, segundo o jornal O Globo, movimentou R$ 1 bilhão no ano passado. Além de cobrarem “butim” para apoiar os governos, independentemente de qualquer conteúdo programático. Por essa razão, a reforma política não sai.
Os jovens que estão hoje nas ruas merecem atenção porque traduzem o sentimento de que é preciso mudar radicalmente as práticas políticas do Brasil e fazer a democracia se reencontrar com o sonho de uma sociedade mais justa.
Por Fabio Feldmann, consultor em sustentabilidade.

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