sábado, 15 de junho de 2013

A polícia de São Paulo utiliza tática de guerra contra os cidadãos e até contra jornalistas

A repressão policial aos movimentos populares que ocupam as ruas de São Paulo está ficando cada vez mais sistemática. Nos últimos dias, o centro da capital paulista tem vivido momentos de tensão devido ao revide da Polícia Militar aos protestos contra a tarifa de ônibus municipal. Na quarta edição da manifestação do Movimento Passe Livre, ocorrida na quinta-feira (13), mais de 15 mil pessoas foram às ruas protestar.
A onda de manifestações começou na semana passada, por conta do aumento de 20 centavos na passagem – de R$ 3,00 passou a custar R$ 3,20 desde o último dia 2. Para conter o avanço da marcha, foram deslocados centenas de policiais da Tropa de Choque, Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas) e a temida Rota (Ronda Ostensivas Tobias de Aguiar) para as imediações da avenida Paulista.
Em cima de uma multidão desarmada, a PM agiu com bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e de pimenta e balas de borracha. A truculência usada pela corporação, reconhecida como desmedida pelo prefeito Fernando Haddad e pelo ministro da Justiça José Eduardo Cardozo – ambos defensores da ação de segurança pública nas primeiras edições do protesto -, é reflexo de uma polícia com caráter militarista e sem autonomia crítica.
“A polícia tem um modelo que é militar, baseado em um pensamento em guerra. Ela não está voltada para manter o direito das pessoas, mas para ir para o enfrentamento, o conflito. O modelo de treinamento é para garantir a obediência, não forma os profissionais para pensarem e agirem de maneira crítica”, afirma Ariadne Natal, socióloga do NEV-USP (Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo).
A obediência, neste caso, é em relação a toda uma hierarquia cujo comando central é o Governo Estadual. Segundo ela, a polícia é um espelho do Estado: se o governo é mais aberto ao diálogo com a sociedade, a polícia tende a ir menos para o confronto contra civis.
“A polícia era uma Força Pública. Ela era habituada a manter a ordem, principalmente contra as camadas populares, e depois foi treinada, durante a Ditadura Militar, para combater guerrilha urbana. A PM não é só violenta em manifestações públicas, mas nas periferias também”, enfatiza.
Em relação à análise das manifestações, Ariadne afirma que a falta de treinamento resultou em um excesso de violência policial. “Houve relatos de pessoas que participaram da manifestação que mostram que houve um excesso. O que aconteceu não é o esperado de uma polícia bem treinada. O esperado é que a polícia faça o seu trabalho assegurando os direitos das pessoas. Não houve diálogo e negociação”.
As ações ocorridas nos protestos contra o aumento da tarifa ganharam proporções maiores, segundo o psicanalista e especialista em políticas para a juventude Jorge Broide. Para ele, os 20 centavos estão mostrando todas as indignações atuais da sociedade, inclusive o despertar da classe média.
“O que a PM faz com a juventude aqui [região central] é o que faz nos bairros periféricos. Essa violência atual é a mesma que agia na ditadura, quando éramos jovens e lutávamos. Essas ações não estão se criminalizando não só um movimento social, mas toda a juventude”.
Broide diz que a juventude de classe média que está aderindo s às manifestações está “sentindo e conhecendo a polícia que a juventude da periferia já conhecia”. Para ele, está tendo um encontro entre essas duas juventudes.
“Eu acho que é positivo esse encontro, pois a minha interpretação é a de que a juventude da periferia está exausta da polícia, da falta de políticas públicas, de educação, de cultura. Nesses 20 centavos está tudo colocado”.
Por Mônica Ribeiro e Ribeiro, jornalggn.com.br/

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